Hoje é o dia mundial da luta contra o cancro!
Não me entendo muito bem com os dias de... e da...e dos... mas hoje ao deparar-me com o assunto, e sendo este tão importante, pensei no dia de ontem, porque o queria assinalar e não o fiz, talvez porque não sei muito bem o que escrever sempre que chego a este assunto, embora o tenha prometido fazer várias vezes, a mim, e a outros.
A verdade é que foi importantíssimo ler outros testemunhos quando este problema me bateu à porta, há pouco mais de um ano atrás. Muito mesmo.
Mas nem todos, nem sempre, temos a mesma capacidade, até chegar o momento.
Há um ano, mais precisamente no dia 3 de Fevereiro de 2012 disse adeus à borboleta, que é uma forma romântica de dizer que fiz uma tiroidectomia total, ou seja foi-me retirada a tiróide, uma glândula que mora no nosso pescoço e que é um género de barómetro do corpo. Digamos, de uma forma simples, que não está cá por acaso!
A analogia com a borboleta nasce de uma certa semelhança de formato entre as duas, glândula e aquele insecto alado, embora a raiz da palavra, de origem grega, seja outra - escudo, com o qual também tem as tais semelhanças.
Esta analogia, a da borboleta, é usada com muita frequência para identificar grupos, fóruns e outros sítios que se dedicam à discussão e esclarecimento das doenças relacionadas com esta glândula.
E não será estranho, tão cor-se-rosa que sou, eu achar graça a esta "alcunha" :)
Há bastante tempo que a minha tiroide era vigiada, por existirem antecedentes familiares, (leiam-se doenças relacionadas), por existirem alguns nódulos que precisavam de ser policiados de tempo a tempo... mas em determinada altura, um tempo antes do diagnóstico final (pouco mais de um ano) foram-se instalando alguns sintomas mais agudos que não relacionei com a tiroide mas, não descartando essa possibilidade, me fizeram também procurar ajuda médica.
Em Dezembro de 2011 fiz uma citologia à tiroide e no dia 3 de Janeiro de 2012 recebi o diagnóstico, cancro da tiróide! Apesar de tudo foi uma surpresa enorme, e logo a abrir o ano!
Exactamente um mês depois fui operada, e a borboleta voou! Um mês que pareceu uma eternidade.
Dizia um médico para uma parceira que conheci nestas andanças: - se tiver que escolher um cancro escolha o da tiróide! É uma frase estranha, que caiu mal a essa amiga que acabou por ver, felizmente o diagnóstico não confirmado. Mas esta coisa de escolher doenças como se fosse um shampoo para o cabelo é meio estranho, embora eu (e muitos) até entendamos este raciocínio. E é verdade que nessa perspectiva é dos que têm melhor prognóstico e esperança de vida!
A verdade é que os meios de diagnóstico são cada vez mais apurados, o que permite detectar a doença cedo e com mais precisão, a possibilidade de remover toda a glândula e levar com ela o bicho ruim é uma vantagem que não existe noutros locais do corpo.
Mas existem historias menos felizes, histórias em que, por uma razão ou outra este avanço dos meios não ocorre ou não é utilizado, por isso esta descrição não pode ser tão linear, tão simplificada.
Mas podemos ter sempre um papel importante e decisivo nesta questão, estar atentos, sem excessos, sem hipocondriaquices, mas muito conscientes.
O cancro nem sempre se contém, viaja, e assume formas menos simpáticas que aquele optimismo promove, seja como for temos de assumir sempre um espírito positivo, aqui e noutras doenças. é essencial e tem consequências boas na cura.
Dos dias... é a rotina a fazer o pino, pôr tudo em perspectiva, ...coisas enormes tornam-se mínimas, aquelas a que damos menos importância ganham uma dimensão incrível. Acontece nos dois sentidos, para o bem e para o mal. Se por um lado tenho noção que aprendi muito, por outro lado também tomei consciência de alguns medos que antes não assumia.
Da fragilidade e da delicadeza, da força da coragem mas também do avassalador que algumas coisas são ou podem ser e por isso nos deitar abaixo.
Há coisas que destaco, e embora já pensasse nelas assim, vive-las é outra coisa.
Fui atendida na consulta de endocrinologia pela excelente Dr. Manuela Oliveira, operada pela extraordinária equipa do Dr. Carlos Costa, e tenho tudo, mas tudo de bem a dizer sobre cada uma das pessoas que naqueles dias me atenderam, me acolheram, me ampararam no Hospital Egas Moniz.
No serviço de medicina nuclear do IPO de Lisboa, todos os dias que lá passei para fazer Iodoterapia, senti-me em casa, nas consultas com o Dr. Limbert, todos e todas, médicos, enfermeiras, técnicos e auxiliares, voluntários com quem me cruzei são de facto anjos que nos confortam, que têm das profissões mais nobres que alguém pode abraçar, e graças a Deus, todos sem excepção fizeram com que esta ideia ganhasse ainda mais corpo na minha admiração.
Podia dizer tanta coisa, já disse algumas..., mas é um assunto interminável.
Mas estou vigiada, e as notícias são positivas. É importante encarar, seja o que for, mas encarar, procurar solução, aceitá-la! E aqui tenho bons frutos a colher da luta contra este cancro!
O ano claro que foi complicado, uma das coisas que esta borboleta me tirou com a sua viagem, foi energia, o entendimento com a medicação que substitui a função de sua excelência, não foi muito pacifica, afectou muita coisa, fiquei mais lenta, o que afectou mais do que eu esperava alguns aspectos do meu trabalho
Fiquei a braços com algumas chatices (ainda não resolvidas) que ganhei com esta doença, como por exemplo a tonelada e meia que me transformou numa espécie de Célia cachalote, e não estou a falar de gramas, são mesmo kilogramas, MUITOS!!!
Fechei portas a muita coisa, porque teve de ser, encostei outras, porque também.
Tem sido mais devagar a recuperação, do que eu pensei a determinada altura, mas se pensar bem, bem lá no fundo, o importante é que a recuperação está a acontecer e isso é excelente :)
Aprendemos a fazer muitas coisas de outra maneira, a vida ganha outra dimensão, mas não quer dizer que todos os dias sejam uma epifania de descobertas maravilhosas e a piscar a piscar, a vida continua com as suas normalidades, mas esta página no livro torna a história mais intensa, isso é certo.
E se estivermos atentos, como em tudo, aquela lição vai ser incrivelmente importante e decisiva naquilo que vai acontecer a seguir.
Mas estou bem em muitos destes dias, noutros até muito bem :), mas digo quase sempre a quem partilho estes acontecimentos - também é preciso aceitar o que nos magoa, o que nos assusta e derruba também, e que potencia as fragilidades. À conta disto há dias beras sim senhor!
Quando me foi confirmado o diagnóstico de cancro após a histologia, a Dr. Filomena disse-me isso, - não tem de se fazer de forte só porque podia ser muito pior (que foi o que eu disse a lembrar-me de frases super mega optimistas como as daquele médico que mencionei lá em cima)... é preciso viver as coisas como elas são na hora que lhes pertence... por outro lado também é verdade que um diagnóstico que envolve a palavra cancro baixa tanto as nossas expectativas que todas as pequenas coisas que correm bem são recebidas com muita alegria, por isso também não podemos negar o sorriso que essas conquistas causam.
Em todo aquele processo, diagnóstico e cirurgia (dois meses) não me lembro de chorar, mas depois e à conta disto já o fiz muitas vezes. Aos poucos vamos desbotando a dor e o medo que temos.
Mas não é muito fácil de confessar.
Agora tenho uma "ranhura" no pescoço, pareço uma espécie de mealheiro alternativo, pelo volume diria que sou uma rica menina :)
Mas acredito que esta experiência me encheu de um pequeno tesouro que só eu e Deus, e aqueles que sabem daquilo que eu estou falar, conhecem. E agradeço-Lhe isso, o amor dos meus pais e dos amigos, porque cada gesto de afecto e de força foi recebido e é entendido como o melhor presente que poderia receber. E isso é muito precioso!
Obrigada*
ps: e pode ser que fale disto mais vezes, é importante, é urgente! e podemos fazer sempre muito mais por nós e pelos outros!
Parabéns pela força e fé, Célia! Só desejo-lhe muita saúde para que possas continuar esse trabalho maravilhoso que nos presenteia a cada post. Deus a abençoe.
ResponderEliminarAbraços afetuosos do Brasil
Guerreira. Parabéns Célia, por essa gigante vitória.
ResponderEliminarTudo de bom!! Os trabalhos fabulosos não podem parar. E, claro que faz bem falar. Desembuche ;)
Beijitos
Ana Cristina
Célia és uma heroína, muita força hoje e sempre para o caminho que ainda tens pela frente. Trabalho é bom, faz-lo ao teu ritmo e lembra: Deus pode fechar algumas portas mas logo a seguir abre janelas. Beijinhos.
ResponderEliminarParabéns pela luta! Um beijinho*
ResponderEliminarMuito obrigada a todos os que têm passado por aqui e de uma forma ou de outra me têm deixado uma palavra de força! :)
ResponderEliminarObrigada Rejane, Ana Cristina, Arco-Iris e Mary também pelos comentários que deixaram :)****
um gigante beijinho
Olá, eu gosto muito do que faz e nomeei o seu blog com o Liebster Award. Espero que goste do desafio. Pode consultar todas as informações aqui: http://santa-handmade.blogspot.pt/ ou enviar-me um e-mail para santahandmade@gmail.com.
ResponderEliminarParabéns pelo bom trabalho que desenvolve. Gosto mesmo muito.
Tudo de bom,
Olga
Infelizmente conheço muitas histórias oncológicas (diria mesmo demasiadas) e nem todas com um final feliz.
ResponderEliminarQue continues em 'dias sim', por muitos e bons anos e que o amanhã seja sempre melhor!
Um beijinho doce*